PÁLIDA E LOIRA (António Feijó 1859-1917)
Morreu. Deitada no caixão estreito,
Pálida e loira, muito loira e fria,
O seu lábio tristíssimo sorria
Como num sonho virginal desfeito.
- Lírio que murcha ao despontar do dia,
Foi descansar no derradeiro leito,
As mãos de neve erguidas sobre o peito,
Pálida e loira, muito loira e fria...
Tinha a cor da rainha das baladas
E das monjas antigas maceradas,
No pequenino esquife em que dormia...
Levou-a a morte na sua graça adunca!
E eu nunca mais pude esquece-la, nunca!
Pálida e loira, muito loira e fria...
(António Feijó, in Líricas e Bucólicas, 1884)
Curiosidade:
Nasceu em Ponte de Lima. Diplomata de carreira, viveu vários anos no Brasil e na Suécia, onde veio a morrer. Muito versátil, dando largas a uma sensibilidade delicada e mórbida, Feijó faz com que na sua poesia confluam muitas das tendências do século XIX, embora seja predominantemente um tom de orientalista simbolista que o aproxima de Camilo Pessanha.
Casou-se com uma moça da família Levin na Suécia para quem fez estes versos post-mortem.
Esta mesma família Levin tem ainda seus descendentes dos quais faço parte.