domingo, 24 de fevereiro de 2008

COURAGE

Há muito, muito tempo atrás, uma velha senhora amiga de família tinha o hábito de despedir-se das pessoas lançado-lhes um sonoro e misterioso COURAGE. Ninguém entendia muito bem, pois entre tantos e tantos adjetivos ela escolhia logo este. Para alguns nada significava, a não ser uma peculiaridade da velha senhora, para outros soava como um estranho presságio.
Esta história me foi contada há pouco tempo e eu fiquei a pensar e vi nesta palavra proferida a cada despedida uma enorme sabedoria que só a idade e a experiência desenvolvem.
COURAGE é tudo aquilo que precisamos para nos tornarmos independentes perante a vida, não deixar que ela nos faça de uma garrafinha ao sabor das marés. COURAGE é enfrentar a vida mesmo sabendo que ela não tem jeito. COURAGE é sorrir quando por dentro estamos lavados em lágrimas. COURAGE é imaginar o dia seguinte e tentar mudá-lo sem ter a certeza de que conseguiremos. COURAGE é ser mal compreendido e mesmo assim tentar explicar de novo. COURAGE é ter a sensibilidade de perceber que a vida dos outros nos interessa e faz diferença. COURAGE é saber que seu irmão, seu amigo sofrem, e você pode passar um tempo com eles e enxugar suas lágrimas. COURAGE é você dar adeus a alguém sorrindo mas despedaçado por dentro. COURAGE é tomar remédio de duas em duas horas e continuar passando mal.
COURAGE é viver.
Isso Mme. Nivoli de Pierrefort, muito obrigado por me ensinar o que é COURAGE..
COURAGE para a senhora também onde quer que esteja.

domingo, 10 de fevereiro de 2008





A fantástica história de Margarida Ratatouille


Ei, psiu, você. Estes sons fizeram com que Margarida parasse por um momento e olhasse ao redor. Já fazia horas que andava sob o sol do meio-dia sem destino, sem rumo, o chão quente queimando as suas patas e a sede já estava insuportável.
Ela vinha por uma estrada que leva à CEASA e foi na entrada deste lugar que ouviu os sons vindos de onde ela não conseguia atinar.
Ei, psiu, você! De novo o mesmo chamado, só que agora Margarida identificou a origem dos sons. Vinham de uma mulher atarracada que mais parecia uma bruxa. Uma cigana pensou Ratatouille lembrando das conversas de sua mãe sobre este tipo de gente que roubavam criancinhas e sempre levavam vantagem sobre os outros mesmo ela sendo uma cachorrinha. Ratatouille estava parada pensando nisto quando inacreditavelmente a criatura esquisita já estava junto dela.
Ora, ora, disse a cigana. Margarida deu dois passos para trás. O que faz uma linda cachorrinha como você perdida por estas bandas? Margarida então tentando esconder to do o seu medo olhou nos olhos da cigana e disse: eu não estou perdida apenas estou dando uma volta para ver se acho alguma comida para levar para meus irmãos, sabe me disseram que aqui neste lugar há muita fruta e legumes, então eu... a cigana a estava cercando e perguntou: o que leva aí neste lencinho? Margarida sentiu que a cigana percebera que ela tentava camuflar algo e disse: são cinqüenta centavos que minha mãe me deu no caso.... ora, ora, com estes cinqüenta centavos posso lhe ajudar muito mais do que você pensa. Ratatouille viu-se sem saída e perguntou: como a senhora pode me ajudar por cinqüenta centavos? A cigana apertou os olhinhos e disse: passe para cá o dinheiro que eu te digo como posso te ajudar. Margarida pensou: estou frita e mesmo que eu tente fugir esta bruxa me alcança ou os cachorros vadios que infestam este lugar vão dar cabo de mim. Vagarosamente Margarida desembrulhou o lencinho e entregou a moeda à cigana que já se abaixava. Ratatouille sentiu o cheiro azedo da mulher e notou que lhe faltavam quase todos os dentes.
Bem, disse a cigana, não é muito, portanto não espere muito de mim. Margarida fez que sim com a cabeça querendo estar em casa junto com os irmãos e pais mas ela sabia que isto era impossível pois ela era a única sobrevivente dos Ratatouilles. Uma denúncia anônima fez com que a carrocinha da prefeitura levasse toda a sua família só sobrando ela que estava como sempre na rua em busca de comida, desde então vivia a vagar até que se bateu com esta mulher perigosa.
Poderia ver sua mão esquerda? Perguntou a cigana e Margarida trêmula pousou a sua patinha na mão da mulher..
Humm!... Uma criaturinha de sorte. Sorte pensou Margarida, e continuou séria, agora nem os cinqüenta centavos tenho mais. A pitonisa de beira de estrada continuou seu vaticínio: você tem muita estrada ainda para andar, mas ao final dela você vai encontrar o que procura. Margarida Ratatouille deu um risinho achando que a mulher não poderia falar diferente, eram todas iguais. Sempre prediziam felicidade, amor e fortuna.
A mulher continuou falando em novos caminhos, pedreiras ( o que são pedreiras, perguntava-se Ratatouille) pessoas boas, pessoas más e que o mundo era assim mesmo e blábláblá. Margarida cansada e com sede já não prestava mais atenção ao que a Cassandra do subúrbio falava e, de repente, a mulher não estava mais lá. Margarida assustou-se, sua cabeça rodava com tantas boas promessas só que ela não sabia nem como começar os seus primeiros metros da estrada que a bruxa afirmou que ela encontraria. Ora bolas, agora sem tostão e o mundo para explorar. Lentamente Margarida deu meia volta e começou o seu retorno para lugar nenhum. Tinha sido assim nos últimos dias. Coceiras pelo corpo, moleques apedrejando-a e quando chegava a noite buscava um arbusto qualquer e passava a noite em vigília entremeadas de breves cochilos, rezando para que logo amanhecesse. E foi assim que mais uma noite veio fazendo com que Margarida se aninhasse junto a um monte de caixas de papelão e ali ficou atenta aos montes de predadores que a haviam perseguido durante seus dias de andanças.
Como sempre o sol nasceu mais uma vez e Ratatouille notou que havia se abrigado próxima ao que lhe parecia um entroncamento de estrada tamanha era a confusão de carros caminhões e pedestres. Ficou observando o mundo dos homens por um bom tempo e foi aí que seus olhos bateram numa placa que dizia: Pedreiras Carangy e logo abaixo Pedreiras Aratu. Ela estremeceu ao lembrar-se que a cigana havia mencionado a palavra pedreira, mas o que foi mesmo que ela dissera? Margarida sorrateiramente dobrou a esquerda para aonde apontavam as setas, imaginando que aquele caminho no mínimo poderia ser o início do seu arco-íris. Seu coraçãozinho batia rápido e lá foi ela andando, escondendo-se e quando vinha a noite uma moita era o céu. Nesta noite sob a moita mal conseguiu cochilar de tanto que se coçava. Pulgas! pensou ela e talvez até carrapatos, já há muito não tomava banho e a idéia de estar sendo comida por estes pestilentos parasitas faziam com que ela ficasse cada vez mais preocupada.
O sol nascia lá pelos lados do mar quando Margarida reiniciou sua jornada. Neste dia uma chuva rápida criou algumas poças d’água que Ratatouille bebeu até ficar sem fôlego. O meio-dia passou e o calor diminuía suas esperanças em encontrar um lar, um abrigo, alguém que a acolhesse. Duas pequenas lágrimas rolaram pelo seu rostinho miúdo e ela sentou-se sob a sombra do que lhe parecia uma placa. Olhando para cima Margarida leu: Pedreiras Aratu, seu coraçãozinho encheu-se de esperança e nesta noite ela dormiu bem e até sonhou. No sonho ela não tinha mais coceira, fome nem ninguém à persegui-la. Acordou ainda de madrugada, era domingo, e ela ansiosamente esperou que a estrada clareasse à sua frente.
Andou, foi escarreirada por um cão vadio, comeu uma manga caída à beira da estrada e olhou para frente. Descortinava-se uma longa reta a qual ela não conseguia ver o fim, mesmo assim continuou a andar sem nunca olhar para trás. Chegou a um lugar arborizado com muito movimento de caminhões, gente e gritaria. Do outro lado da estrada ela leu: Pedreiras Carangy. Seu rabinho acenou de alegria e ela sentiu pela primeira vez que a cigana poderia estar certa. A tarde vinha caindo quando após andar alguns metros começou uma estradinha de barro, com casas junto à rua, cajazeiras, pessoas conversando nas entradas das casas e ela feliz, pois ninguém prestava atenção a ela mas não foi bem assim, saído ninguém sabe de onde um cachorro enorme começou a persegui-la e ela safou-se dele descendo uma ribanceira e depois ao subi-la deu de cara com uma casa com um portão de madeira, cercada de arame farpado mas nada que impedisse Ratatouille de entrar e aninhar-se num quarto cheio de ferramentas e estantes de paus rústicos. Entrou sob uma delas e ficou enroladinha num canto quando ouviu a porta bater e um clic seguirem-se. Bom pensou ela estou presa, mas estou segura. O domingo acabava. O quarto que ela julgou ser de ferramentas estava uma bagunça, mesmo assim ela conseguiu distinguir pela luz que ainda entrava por sob a porta um cortador elétrico de grama, uma máquina fole para matar formigas e sentiu um cheiro no ar que ela reconheceu de imediato: jaca, sim era jaca e ela rapidamente localizou a fruta e comeu até fartar-se. Acordou no outro dia com um clic. Alguém estava abrindo a porta, ela encolheu-se mais no canto. Da sua posição ela via os pés de uma pessoa que procurava algo nas prateleiras, a pessoa ia se abaixando a procura do objeto na medida em que não o encontrava. Margarida enrijeceu-se para a fuga e de um só salto já estava na soleira da porta e enfiando-se por entre os fios de arame farpado da cerca, num instante estava na mata. Ao recuperar-se do susto resolveu que só sairia de novo à noite pois pretendia explorar aquele local. Mal sabia ela o que encontraria.
Esperou todo o dia passar e vendo o movimento da casa pensou que seria melhor aventurar-se tarde da noite.
2:10min.da madrugada, todos da casa já dormiam fazia tempo então ela num ato de coragem se bem que impensado latiu! Uma, duas vezes fazendo com que todos acordassem assustados pois não reconheciam nos latidos nenhum parecido com os cães da casa que eram 5. Isto Ratatouille não sabia e ao ver a porta se abrir dois cães enormes partiram em seu encalço.Ela correu, correu... passou por uma fresta de portão num ato dos mais improváveis e enfiou-se no mato novamente.
Ufa! Pensou ela, foi por pouco, mas amanhã é um outro dia. E assim foi, no outro dia às 7:15 da noite começou um latido insistente dos cães fazendo com que o dono da casa fosse à parte dos fundos verificar porque tamanha confusão. O cão maior e mais velho latia insistentemente para debaixo do carro e assim Margarida Ratatouille viu uma mão baixar até ela e concretizar o presságio da cigana.
Seu coraçãozinho batia disparado. Hoje ela mora comigo na minha casa em Taquara Poca.
Ele é a querida Ratatouille a criança que faltava. Ela é a cachorrinha no que é natural, Ela é o divino que sorri e que brinca. E por isso é que eu sei com toda a certeza que ela é o Espírito verdadeiro.



FIM

sábado, 2 de fevereiro de 2008