quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Quase... (Luiz Fernando Veríssimo)

Ainda pior que a convicção do não é a incerteza do talvez, é a
desilusão de
um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata
trazendo
tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga,
quem
quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase
amou não
amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos,
nunca sairão
do papel por essa maldita mania de viver no outono. Pergunto-me, às
vezes, o
que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto,
contesto.
A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos
sorrisos,
na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que
sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A
paixão
queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons
motivos
para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se
a
virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os
dias seriam
nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não
inspira,
não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro
de si.
Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao
alcance,
para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência
porém,
preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a
oportunidade
de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros
amores
impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou
economizar
alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe
que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de
tentar.
Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando
que
sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque,
embora quem
quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

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