sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Júlia (Jujú)
Uma Great-Dane de 2 meses que chegou à Taquara-Poca no último dia 18.11
Muito meiga e amiga como todos desta raça. Amiga de Vitória e Loli.

terça-feira, 13 de novembro de 2007


Saudades de um neto.

Sou o neto mais velho de Vêlveda Castro Lima Lanat, Vódinha para todos os seus netos. No dia 12 de novembro fui visitá-la, levar algumas flôres e conversar um pouquinho com ela. Contei-lhe da saudade que sinto e também rememoramos algumas passagens da nossas vidas.
Lembramos da história de quando ela foi alfabetizada por uma professôra sisuda (como não poderia deixar de ser) que viúva usava um laçarote lilás no pescoço. Da sua merendeira que cheirava a manteiga e das horas intermináveis e aborrecidas que passava na escola.
Lembramos também da sua narrativa sôbre a última vez em que viu sua avó, com um vestido comprido que arrastava a bainha no chão e do chapéu com uma pena. Ela estava na janela e gritou: vovó! A vovó se virou e ela viu um semblante que só as avós têm. Era o ano de 1908, Vódinha tinha 5 anos.
De seu pai ela contava as peripécias, como uma vez em 1910 quando Salvador foi bombardeada, ele levou um tiro na Rua Chile. Morreu muitos anos depois, jovem, aos 48 anos.
Depois conversamos sobre tempos mais modernos conversa que tínhamos nos "almoços íntimos", que nada mais eram que o almôço servido em seu quarto quando ela não queria ir para a sala almoçar. Aí falávamos de plantações de alfaces, flôres e de um sem número de outros assuntos que me levariam a escrever dias a fio. Falava de política apaixonadamente mas sempre reservando um triste fim a estes parlapatas.
Contava-me também quando seu pai a imunizou contra a varíola e que em 1918 estava no dentista e viu passar os caixões de dezenas de vítimas da Gripe Espanhola. Eu escutava com a máxima atenção àqueles relatos de história viva. Me contou ela que uma vez descendo a Ladeira de São Bento assistiu a um discurso de Rui Barbosa que estava num carro conversível! Que mulher de sorte.
É isto, poderia passar horas e horas a descrever esta mulher à frente do seu tempo que tive a sorte de ter como avó. Mas vamos deixá-la descansando sob todas as cores que há nas flôres.
Um beijo Vódinha, seu neto Marcelinho.

domingo, 11 de novembro de 2007

Belo exemplar da Arte Cemiterial. Esta coruja em mármore encontra-se adornando um túmulo de meados do século XIX e representa a guardiã da noite, a sagacidade e a erudição.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

A cidade do Salvador.
Nasci e fui criado aqui na cidade do Salvador. Hoje tenho 52 anos e não deixo de ter e sentir uma certa nostalgia e até saudades do que esta cidade foi e o que ela representa para mim. A cidade do Salvador nunca foi somente um lugar de domicílio, muito, além disto, era o local que eu amava e sabia que também era amado por ela.
Nos idos dos anos 50 quando nasci não sei se Salvador chegava aos trezentos mil habitantes, hoje no início do século XXI já chega aos três milhões de habitantes e aí começa uma viagem nostálgica entre o que Salvador foi e é hoje.
Lembro-me muito bem que minha família até o final dos anos 50 tinha uma casa de veraneio na Pituba que era um local distante do centro e que se chegava lá depois de muitas derrapagens num caminho estreito de areia e queimava-se o pé se estivéssemos descalços. Lá passei vários fins-de-semana e me recordo do burrinho trazendo água para beber todo o final de tarde e os meses de fevereiro quando montavam em frente à nossa casa um parquinho tosco com vários brinquedos, um alto-falante tocando músicas aos berros e o cheiro das algas que rescendiam quando a maré estava enchendo. Quanta saudade!!! Até hoje trago na memória os cheiros deste tempo. Jamais consegui senti-los uma vez mais que seja. Hoje em dia este bairro cresceu, até casa de “strip-tease” tem e a rua de areia é conhecida hoje como Avenida Manoel Dias da Silva.
Parece-me que naqueles tempos idos sua população amava mais sua cidade, a cidade era pequena é bem verdade, mas havia nela uma aura de proteção, de despreocupação de cuidado de seus filhos para com ela e ela retribuía. Era linda, inocente, principalmente quando se vestia de noite e se perfumava com seus cheiros mais exóticos.
Passaram-se os anos e a cidade do Salvador que tem nome de homem, mas com certeza é mulher começou a ser tratada como uma cidade como outra qualquer. Começou o declínio da beleza, trocada por uma nova plástica onde não reconhecemos mais a bela mulher que um dia ela foi.
A aglomeração, a favelização a ganância, o pouco caso, políticos e administrações desastrosas tornaram a cidade da Bahia numa coisa amorfa, roubaram-lhe a personalidade. Da Ribeira a Praias do Flamengo que uns trinta quilômetros separam existiu um dia uma das mais belas paisagens de Salvador. Brigam agora o poder público e os barraquieros, numa luta que a perdedora será a cidade do Salvador, mas quem se importa se você quando vai à praia seja recebido por uma “bola perdida”, uma raquetada ou uma inocente peteca?
Se o banhista ainda tiver fôlego, sentarse-á numas daquelas inúmeras cadeiras de duvidosa higiene e ao invés de ouvir o murmúrio das ondas e a música da brisa ouvirá uma mistura de sons que vai do Axé music até Chopin e, diga-se de passagem, tudo isto a muitas oitavas acima.
A bela senhora entristeceu-se. Tem hoje a mesma cara das cirurgias plásticas que passeiam por aí. Ela não usa mais o seu leque mágico que refrescava as nossas tardes, tampouco ri de chorar para nos refrescar com seus aguaceiros inesperados.
E eu fico triste. Nostálgico com um tempo que ir a praia era pegar as ondas ou deitar-se nas suas poças de águas mornas.
Com saudades das suas belezas e cheiros os quais seus próprios filhos trataram de extinguir.
Desculpe cidade do Salvador, mas acho que nem todos souberam entender que você é vaidosa como toda mulher e quebraram o seu vidro de perfume.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007



A Carpa Gulosa.


Vinte e hum dias passou a criaturinha de boca aberta, num canto do lago, sem comer, numa posição quase vertical, posição inusitada aos peixes.
E eu angustiado sem saber o que fazer, pois nada entendo da saúde destas belas criaturas e, assim sendo nada podia fazer. Mas deixe lá que o ser humano é curioso e resolví de puçá e tudo apanhá-la, e de perto poder saciar minha curiosidade e diminuir minha angústia. Vejam bem 3 semanas não são 3 dias. Apanhei-a no meio da tarde, a boca imensa aberta feito um túnel. Coloquei sua boca na direção de um raio de sol. O olhar dela era triste e pensei: quando nada você vai descansar juntos aos outros bichinhos queridos, para morrer afogada você não volta!
Apurei a vista e lá dentro já presa a garganta estava o motivo da desordem. Uma pedra, sim um pedaço de pedra de 5cm que não a deixava comer nem respirar direito por 21 dias.
Pensei contente: "dos males o menor". Munido de uma pinça segurei a pobre criatura e de lá de dentro saquei os 21 dias de sofrimento.
Guardei a pedra, servirá de amuleto. A Carpa? Hoje nada graciosamente como se nada houvesse acontecido.

Eis as carpas

Material usado para remover a pedra(5cm.), a dita cuja, a pinça e a escala.

E é verdade.

No son los muertos los que en dulce calma la paz disfrutan de la tumba fría,
muertos son los que tienen muerta el almay viven todavía.
No son los muertos, no, los que reciben
Rayos de luz en sus despojos yertos,
los que mueren con honra son los vivos los que viven sin honra son los muertos.
La vida no es la vida que vivimos,
a vida es el honor y es el recuerdo.
Por eso hay muertos que en el mundo viven y hombres que viven en el mundo muertos.
(Antonio Muñoz Feijoo1851-1890Popayán, Colombia)