segunda-feira, 12 de abril de 2010

Uma injeção de metal.
Há muito tempo que eu não escrevo neste blog. As últimas publicações foram copiadas e coladas de outros sites mas o que aconteceu na véspera da Paixão de Cristo merece ser contado. Acordei cedo, e me aprontei para ir ao dentista sabendo que depois iria enfrentar um super-mercado. E assim foi. Minha mãe uma senhora de 75 anos de saúde pétrea, diferente de mim que ando com o insuportável Mal de Parkinson e todos os seus desdobramentos: discinesias*, rigidez, lentidão e outras coisinhas mais me faziam temer pelo pior. Fiquei duas horas sentado na cadeira do dentista com a boca anestesiada,rezando para que acabasse logo. E acabou por volta das dez horas. Tudo bem, eu já havia deixado minha genitora no super-mercado e rumei para lá. Aí que tudo começou, para estacionar foi uma guerra, rodei umas quatro vezes até achar uma vaga num canto. O que saía de gente era inacreditável e eu com minha boca torta devido a anestesia começava a sentir passar o efeito da L-dopa (remédio para Parkinson) e os neurônios começavam a enlouquecer e eu a tremer de medo, pois quando o efeito passa e eu estou dirigindo é um salve-se quem puder. Imediatamente tomei mais 125mg do remédio na esperança que ele fizesse efeito rápido e me poupasse do “andar de ganso”, é um andar marcial, lembra aquele das paradas da antiga Rússia.Fechei o carro e rumei para a entrada, já sentindo a perna direita começando a querer andar sozinha.Fui em frente procurando na multidão que se aglomerava nas filas e nos corredores por minha mãe para que pudesse ajudá-la a empurrar o carrinho de compras. A perna já estava enlouquecida e aí a parada Russa começou. Suava frio tentando me equilibrar em uma perna só, parecia um Saci-Pererê. E nada da mamãe. Neste ínterim esbarrei em um sem número de pessoas, pisei no pé de uma criança que deve ter ido para o ortopedista pois senti o pezinho dele sendo esmagado pelo meu pé mas nem olhei para trás, também não ouvi nenhum som que indicasse dor. Continuei agora completamente militar, marchava que era uma beleza, não sentia meus lábios e nada da mamãe. Finalmente depois de rodar muito lá estava ela com um saco de maracujás nas mãos. Então eu acenei para ela que muito calma me pediu que eu sentasse pois o andar de ganso estava incrível e quando estou assim chuto as pessoas ao redor e ela ficou com medo de levar uma pernada. Argumentei que as filas estavam enormes e não haviam cadeiras disponíveis à quilômetros. Então ela pronunciou a palavra mais esperada do dia: ACABEI!!!
Agora começaria a batalha para chegar aos caixas de Idosos, Gestantes, Pessoas com dificuldade de locomoção. Mas chegamos. Dando voltas e mais voltas entramos no fim da fila para ficarmos por duas horas vendo e ouvindo de tudo. Para começar as pessoas conversavam muito entre si: davam seus endereços, telefones, falavam de doença e a fila andava muito lentamente.
Foi quando ouvi uma berraria que vinha de um velhote que acabava de brigar com os funcionários do super-mercado reclamando muito justamente da falta de empacotadores. Aí o Parkinson havia chegado ao auge. Não entendia mais o que as pessoas falavam e o velhote para meu desespero parou ao meu lado e se dirigindo à mim começou a desfazer um rosário de imprecações e palavrões impublicáveis contra o dono do super-mercado que segundo ele chamava-se Teobaldo e que era um ladrão assim como a polícia era formada de ladrões uniformizados, que os políticos eram todos ladrões e que o povo brasileiro era responsável por tudo isto. Fez uma observação: que nos Estados Unidos todos iam presos fossem pobres ou ricos não importava o status social e a depender do crime iam presos e levavam uma Injeção de Metal*. Pensei ter ouvido mal mas ele repetiu, INJEÇÃO DE METAL.
Pulou deste assunto para os males do SUS, de como os brasileiros eram desdentados, passei a mão pela boca para sentir o efeito da anestesia que agora expandia-se até o nariz e notei que o reclamante só tinha um dente na boca. Aí um burburinho no caixa me chamou a atenção. O problema agora era que haviam mexido no sistema de leitor de barras e as carnes não poderiam ser registradas junto com as outras compras. Havíamos chegado ao que parecia um beco sem saída. A caixa então teve uma idéia brilhante: somr todas as carnes em um papel e registrá-las em outro balcão. Feito isto, retornei ao caixa e a vonta foi paga. Depois de duas horas, sim 120 minutos saímos deste hospício para enfrentar o engarrafamento da Estrada do Côco. Passei o resto do dia na cama cansado com o mestre Parkinson reclamando. Haja

4 comentários:

Té disse...

Querido Téllo este é um relato de coragem, uma coragem só sua, pois só você sabe o que é enfrentar esse dia-a-dia com mestre Parkinson grudado. Sei que há horas que parecem anos, dias que não fazem sentido!
mas saiba que ao seu lado tem muito amor, da sua família dos seus amigos mesmo distantes e que não vivem sem você.
Deveria escrever mais, muito mais. Pois escrever nos aproxima de nós e dos outros.
Te adoro

Té disse...

Mas temos que concordar, no meio de toda a barafunda, INJECÇÃO DE METAL é ÓPTIMO!
Beijinhos mil e muitas saudades.

Dalva disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Dalva disse...

Querido
agora nao sei se melhorou, nao lembro como estava.
Dá pra ler tudinho!!
É muito bom ler o que vc escreve.. até por que tenho uma certa intimidade com o assunto.
Aproveitando a oportunidade abri um blog para falar do meu trabalho com meu corpo meigo e treme treme ... confira http://odenisebellini.blogspot.com/