terça-feira, 22 de maio de 2007

Adormecida
em memória de Vódinha, minha avó.
UMA NOITE, eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente. 'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina... E ao longe, num pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina. De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala, e de leve oscilando ao tom das auras, iam na face trêmulos - beijá-la.Era um quadro celeste!...A cada afago mesmo em sonhos a moça estremecia...Quando ela serenava... a flor beijava-a...quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...dir-se-ia que naquele doce instante brincavam duas cândidas crianças...A brisa, que agitava as folhas verdes, fazia-lhe ondear as negras tranças!E o ramo ora chegava ora afastava-se...mas quando a via despeitada a meio, p'ra não zangá-la... sacudia alegre uma chuva de pétalas no seio...
Eu, fitando esta cena, repetia naquela noite lânguida e sentida:'Ó flor! - tu és a virgem das campinas!'Virgem! - tu és a flor da minha vida!...'
C.A.

Um comentário:

Dalva disse...

meu querido... que linda a poesia de Castro Alves!